Sou

Sou
O tudo e o nada,
O sim e o não.
A luz e a escuridão,
O sol e a lua.

Sou a vida e a morte,
O medo e a sorte.
O barulho e o silêncio,
A festa e a tristeza.

                                    Sou minhas lágrimas
                                               E meus sorrisos.
                                                         O dia e a noite,
                                                                      O vento e a brisa.

Sou verde, vermelho, amarelo e azul.
Cinza, roxo, branco, preto ou marfim.

Sou todas as cores,
Sou muitos amores
Sou todas as flores
Em todo jardim.

Sou tudo o que eu quero,
E o que eu não quero também.


Messias Pinheiro

Ferro a Brasa

Ao cantar do galo, no nascer do sol,
Levanto-me e tomo meu café.
Pra beira do açude com a trouxa na cabeça,
Seguirei minha caminhada a pé.
Quanta roupa suja ainda tenho que lavar?
Comprar sabão fiado na bodega
Sem saber qual o dia terei dinheiro pra pagar.
No final da tarde
Peguei meu ferro a brasa
E na sala da casa
Continuei a trabalhar.
Roupa limpa, engiada.
Era preciso engomar.

                                              Messias Pinheiro

Por quê falam em meu nome?

Estava acontecendo o primeiro Encontro Nacional de Juventudes da RECID, em Luziania-Brasilia, era trinta de janeiro de dois mil e treze, cerca de cento e vinte jovens dos diversos estados do país faziam-se presentes no auditório do Centro de Formação Vicente Canhas.
Naquela manhã, constava na programação um momento de boas vindas e contribuições discursivas por parte da militância. Houve duas mesas, uma com representantes do Governo Federal, e a outra das organizações da sociedade civil.

A primeira com a presença de Silvino Heck (Dept. de Educação Popular, SNAS-SG-PR), Diogo Santana (Secretario-executivo da secretaria geral da presidência da república), Paulo Maldo (Secretário Nacional de Articulação Social), Pedro Pontual (Diretor do departamento de participação social), Salete Moreira (Secretaria de direitos humanos), Severine Macedo (Secretária Nacional de Juventude), onde eles expuseram as ações governamentais por parte da União em relação às políticas para a juventude.  Eles relembraram suas histórias de luta em defesa e construção de um Brasil democrático, e a época de fazer movimento estudantil, pastoral e social.

A segunda mesa foi composta por Jonatan Roré (UNE), Wellington Neto (PJMP), Abuzinho (Levante), Geo (CTO), Luti (Companhia revolucionária triangulo rosa), João (MST), para falarem em nome das juventudes brasileira, cada um relatou os sonhos e os desejos de um poder popular.

De repente surgiu do meio do publico um jovem que gritou.

- Meu nome é Pedro.

- Não me convidaram pra ocupar um assento nessa mesa. Tenho dezessete anos, e eu também quero falar. Sou conectado nas coisas, tenho facebook, gosto de balada, namorar, passear e fazer novas amizades. Ainda não estou trabalhando, todos os dias vou para a escola, digamos que estou estudando. Tenho um transporte, uma moto YBR – 125 cor preta e sem placa. Infelizmente ainda não tenho carteira, mas quero tirá-la. 
  
- Por que me perguntas como comprei essa moto?

- O que você acha?

- Meu pai fez um empréstimo. Um desses que o Governo Federal libera pra classe c. Sou esperto, se não fosse assim, ficaria apenas na vontade e não teria nada.

- Não olhes para mim dessa forma.

- Sou apenas mais um que vocês ficam brincando de falar em meu nome. Vocês dizem que querem transformar o mundo e mudar o sistema. Querem um país soberano, e no governo um poder popular. Mas na verdade todos querem apenas mudar de lugar. Quem ocupa vaga no governo, ontem era movimento social, quem está no movimento social quer está amanhã no governo. Por que vocês ficam se perguntando de qual lado estão? Digam-me na verdade o que vocês querem construir?

- Estão vendo esse homem aqui de terno e gravata?

- Estão vendo como estou vestido? Na natureza somos todos iguais. Ninguém é superior ou inferior. Temos o mesmo dom, Vida.

- Gostaria de pedir que não falem em meu nome. Sou Maria. Sou Luíza.  Sou Antonio. Sou Lucas. Sou aqueles que todos falam por mim.  Envolva-me e me mostrem o porquê devo entrar na roda com vocês.

A verdadeira revolução acontecerá quando assumirmos os rumos de nossas histórias. Quando formos sujeitos de nossos destinos. Quando percebemos que o importante não é o lugar que ocupamos, mas a essência de nossos ideais, de nossas lutas, sonhos e vivências. 

Somos seres pensantes e responsáveis por nossas decisões. Na luta não podemos ter partidos ou rótulos, temos que ousadamente assumir a nossa HUMANIDADE, respeitando a diversidade de raça, cor, sexo, religião ou nacionalidade.
Messias Pinheiro

Dois Meninos no Palácio


Inacreditável, tudo parecia um sonho. Muitos tinham vontade, mas poucos conseguiam. Lucas e Felipe, dois jovens nordestinos, cearenses, ousados e sonhadores, sendo um do interior e o outro da capital, conseguiram chegar ao Palácio.

Não era o castelo da Cinderela e nem um desses de contos de fada. Era o Palácio do Planalto. Castelo real do povo, centro do poder, ocupado por alguém que é leeito para representar os indivíduos, coordenar os programas e projetos nacionais, mediar os interesses da coletividade e administrar o patrimônio público. Além do secretariado e assessores, pessoas de confiança do gestor.

Lugar belo e luminoso, decorado com obras artísticas, cheia de simbolismo, um espetáculo arquitetônico que retrata parte da história do povo brasileiro. Do povo que tem tempo pra fazer turismo, estudar em escola particular, ter plano de saúde, possuir automóvel, pagar empregados, entre outros. Não retrata as maiorias, daqueles que andam de pau de arara ou transporte coletivo, que utilizam o SUS, o PROUNI, o Bolsa Família, que deixam os filhos nas creches pra ir trabalhar, dos "sem luzes" que ocupam as carteiras nas escolas, dos que esperam a chuva chegar pra poder plantar e colher. Esses são felizes por terem em seu quintal uma cisterna de placas. Ele não é uma pintura da classe que eu faço parte, dos agricultores, trabalhadores, suburbanos, periféricos, empobrecidos. Infelizmente, não é um retrato da maioria. Somos a base dessa pirâmide.

Na galeria dos Presidentes, havia a foto de todos eles, desde Teodoro da Fonseca até Luiz Inácio Lula da Silva. Um fato que chamou atenção dos meninos nas imagens era a seriedade que elas repassavam, onde apenas dois quebraram a formalidade, sorrindo na foto oficial. João Figueiredo, o último presidente do período da ditadura militar com mandato de 15 de março de 1985 e Lula, primeiro presidente oriundo da classe trabalhadora, operário e nordestino, sem especialidades acadêmicas com mandato de 1 de janeiro de 2003 a 1 de janeiro de 2011.

Lucas e Felipe só pisaram naquele chão graças a uma jovem mulher, servidora da presidência da república, que o destino os apresentou no prieiro encontro nacional das juventudes da rede de educação cidadã, que estava acontecendo em Luziânia (GO). Ela os conduziu por aquele passeio por volta das 20h do dia 1º de fevereiro de 2013, horário que o Palácio do Planalto está fechado para visitantes. Os meninos voltaram para o local do evento, felizes e reflexivos. Foram e voltaram em um dos carros que prestam serviços a presidência.
Messias Pinheiro

MARIAS



Sou Maria das Dores, tenho 63 anos, 07 filhos e sou viúva. Todos os dias acordo por volta das quatro horas da manhã. Bem cedo tenho que fazer a merenda das crianças, dar banho e deixá-las no ponto do carro  de linha, para que elas possam ir para a escola na cidade.

Sou Maria das Graças, tenho 20 anos. Trabalho como auxiliar de serviço em uma loja d e moveis na minha cidade. Com 16 anos conheci meu esposo casei e parei meus estudos, assim vou seguindo a vida.

Sou Maria Auxiliadora, tenho 38 anos, sou casada e mãe de 02 filhos, formada em economia e trabalho ao lado de meu esposo gerenciando as empresas.

Sou Maria Aparecida, tenho 09 anos e moro com uma tia. Não conheci minha mãe, ela morreu minutos depois que nasci.

Sou Maria das Neves, tou bem pertinho de completar 55 anos. Todos os dias ando por essa redondeza, paro aqui, paro acolá, e tomo uma bicada de pinga pra acalmar meus nervos.

Sou Maria José, tenho 68 anos e moro sozinha nessa casa. Meus irmãos estão todos casados, cada um com sua família. Eu fui a única que não casei.

Sou Maria da Glória, tenho 26 anos e estou muito ansiosa. Estou grávida de 08 meses. É uma alegria aguardar a vinda de minha primeira filha.

Sou Maria de Nazaré, tenho 17 anos, estou noiva de José, mas sem esperar recebi a noticia que estou grávida.  Imagine grávida sem conhecer homem algum.  Um escândalo pra minha família, uma jovem grávida sem ter esposo. Vocês não sabem o que estou enfrentando para assumir meu filho, poder cuidar dele e dar todo o amor que ele necessitará.

Sou Maria em todos os títulos, Maria de janeiro a janeiro, sou Maria em corpo de mulher e sou homem em corpo de Maria. Humanamente, divinamente, mãe, mulher, Maria.
Messias Pinheiro