Na Calçada



Acabei de chegar em casa. São 22 horas e 26 minutos. Encontrei esparramado pelo chão de minha calçada um senhor que não sei do nome, o batizei pelo pseudônimo de Zé Qualquer. Aparentemente ele tem entre 50 a 60 anos. Com alto teor de álcool, Qualquer não sabia em que lugar se encontrava.

Uma cena que nos deparamos cotidianamente nas calçadas, que se tornou tão comum a ponto de não tocar nossa sensibilidade. Vendo ele deitado na esquina da Rua Pedro Alves com a Rua Padre Leopoldo Rolim, com um temporal de chuva se aproximando fiquei sem saber como reagir. Contemplei o Cristo em minha porta com frio e sem ter para onde ir. Senti vontade de ajuda-lo, mas fiquei com medo de sua reação.

Abri o portão, entrei no apartamento e fui até a despensa. Pequei um colchonete e um lençol, com um friozinho na barriga desci as escadas e me aproximei dele, fiquei chamando até ele acordar. Perguntei onde ele morava, respondeu-me que morava ali mesmo. Perguntei novamente e ele disse que morava na Vila São João.

Pedi que o Zé levantasse e fosse se deitar no colchonete no prédio que estava em construção no outro lado da rua. Olhando para ele fiquei pensando:

 Como ele, quantos estão caídos nessa estrada nessa hora?

Zé que tem nome e sobrenome, que trabalha no pesado para dar o sustento a sua família, que se casou, teve filhos e constituiu um lar. Zé Qualquer, trabalhador, honesto, homem de bem, entregou-se nos braços da bebida perdendo o controle de seus atos, deixando-se ser totalmente dominado.

Existe muitos “Zé” espalhado pelo Brasil, vivendo essa situação de opressão.

Messias Pinheiro